Quase 6 mil trabalhadores param o estaleiro em Rio Grande

Homens cruzam os braços contra não pagamento para colegas demitidos. Sem sinais de reversão, a crise que ameaça o polo naval de Rio Grande volta a recrudescer. Em protesto contra o atraso no pagamento da primeira das quatro parcelas da rescisão de 283 trabalhadores demitidos há um mês, os funcionários do estaleiro Ecovix entraram nesta quinta-feira em greve.

Cerca de 6 mil pessoas, sendo pelo menos 1,5 mil terceirizados, cruzaram os braços e prometem manter a paralisação até o pagamento integral.

— Receber em quatro vezes já é um abuso, mas nem parcelado eles pagam — reclama o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e São José do Norte, Benito Gonçalves.Com problemas de caixa, a Petrobras tem com a Ecovix — controlada pela empreiteira Engevix — contrato para produzir cascos de plataformas. Dos oito previstos, dois já foram entregues, e um acabou tendo a produção redirecionada para a China. Há o risco de que as outras estruturas sigam o mesmo caminho.

O quadro é agravado pela demora da Petrobras em confirmar a montagem das plataformas P-75 e P-77 pela QGI. Após a empresa ameaçar romper o contrato com a alegação de custos defasados, um acordo foi anunciado em julho, mas até agora o aditivo não foi assinado. As duas plataformas poderiam gerar 5 mil empregos.Contrariados pelos impasses, sindicalistas e movimentos sociais prometem fazer uma nova manifestação nesta sexta-feira no centro de Rio Grande.

A crise na Petrobras e nas empreiteiras, reflexo da Operação Lava-Jato, respinga em empresas gaúchas fornecedoras do polo.

— Nossos associados têm manifestado atrasos em pagamentos. Há um caso que chega a oito meses — revela Luiz Vivian Corrêa, presidente da RS Óleo & Gás.

O receio de Corrêa é que o quadro acabe comprometendo a continuidade do polo naval de Rio Grande, como ocorreu em Charqueadas. Procurada, a Petrobras não se manifestou. A Ecovix, à tarde, informou estar preparando um comunicado, mas ficou em silêncio.Em 2015, reversão no mercado de trabalho A crise naval acerta Rio Grande em cheio. Décima cidade mais populosa, ano passado figurou como a sexta que mais gerou emprego no RS. Em 2015, entre janeiro e agosto, é o quarto município com o maior saldo de demissões.

— A situação da indústria naval tem reflexos diretos nos serviços e no comércio. O nosso mercado imobiliário está totalmente parado — observa o presidente da Câmara de Comércio da Cidade de Rio Grande, Torquato Pontes Netto.

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos, o número de demissões este ano fica em torno de 3 mil. Joacir Pedro, presidente do Fórum dos Trabalhadores da Indústria Naval, lembra que, em meados do ano passado, o segmento chegou a 90 mil metalúrgicos. Desde então, cerca de 30 mil perderam o emprego.

Na quinta-feira, o IBGE divulgou a taxa nacional de desemprego. O índice de 7,6% é o maior para setembro desde 2009, quando bateu 7,7%. No mesmo período de 2014, percentual estava em 4,9%. EMPREGOS PERDIDOS
2014-Rio Grande foi a sexta cidade que mais gerou empregos no RS, com saldo positivo de 903 vagas.

2015
-Quarto município com mais demissões entre janeiro e agosto, com 2.593 vagas fechadas.

Por setores (2015)
-Em serviços, o município tem o segundo pior desempenho no ano, com 677 empregos eliminados.
-No comércio, é o quarto em demissões, com 851 vagas fechadas.
-Na indústria, o nono, com saldo negativo de 742 postos.Fonte: Caged Zero Hora – Por: Caio Cigana 23/10/2015