Centenas de pessoas participam da audiência pública

Munidos com cartazes com frases como: “Com a saída das plataformas, vamos ficar só com o sonho?”, “E aí governo cadê o nosso Polo Naval?” e “Cumpram o que prometeram ou para tudo”, cerca de 1,3 mil trabalhadores participaram, na tarde de ontem (13), da audiência pública sobre a situação do Polo Naval no Município. Na ocasião, líderes políticos, trabalhadores e empresários estiveram reunidos para discutir e traçar ações em prol da indústria naval da cidade.

A audiência foi solicitada a partir de proposta apresentada pelos deputados estaduais Adilson Troca (PSDB) e Nelsinho Metalúrgico (PT), por meio da solicitação do prefeito Alexandre Lindenmeyer. Entre as autoridades, esteve presente também o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, Edegar Pretto, além de outras importantes lideranças.

Um dos objetivos dos envolvidos é garantir a retomada dos trabalhos no Estaleiro Rio Grande (ERG 1), os quais estão parados desde que a empresa Ecovix – pertencente ao Grupo Engevix – realizou o pedido de recuperação judicial à Justiça, o qual foi aceito. Anterior ao pedido de recuperação judicial, a responsável pela administração do ERG 1 havia feito uma demissão em massa, deixando dentro do estaleiro apenas uma pequena parte de funcionários, os quais ficaram responsáveis pela manutenção do espaço. A partir daí, o número de trabalhadores desempregados do setor, no Município, teve um grande aumento.

Conforme o prefeito Alexandre Lindenmeyer, a retomada dos trabalhos dentro do Estaleiro é de extrema importância para a manutenção do Polo Naval. Ele diz que já estão dentro do ERG 1 peças para a continuidade da construção da P-71. “Acima de tudo, essa não é uma luta exclusiva do Rio Grande. Espero que tenhamos um encaminhamento, uma resposta direta e emprego rápido”, destaca. O prefeito ainda destaca que o Polo Naval é muito importante para a economia da cidade.

DESAFIO

Segundo o deputado federal Henrique Fontana (PT), o desafio quanto à sobrevivência do Polo Naval no País é enorme. “Estamos vendo o abandono da política de conteúdo local. É preciso uma mudança imediata. A Petrobras tem que exigir conteúdo nacional nas suas compras. Todos nós somos contra a corrupção, mas para combater a corrupção não se destrói uma indústria naval como a que nós temos. Não podemos assistir o sucateamento do Polo Naval. A P-71 pode e deve ser terminada em Rio Grande nos próximos 18 meses. A recuperação judicial não impede a construção da P-71 aqui em Rio Grande. Temos que pressionar a Presidência da República para defender e manter o conteúdo nacional”, aponta.

A prefeita de São José do Norte, Fabiany Zogbi Roig, disse que, na cidade vizinha, com a construção da P-74 no Estaleiro EBR, foram gerados 2,5 mil empregos diretos e 7,5 mil empregos indiretos. “Nós não podemos permitir que tirem isso de nós. Os municípios se prepararam para receber toda essa infraestrutura. Os municípios assumiram responsabilidades. Nós estamos com os orçamentos comprometidos e as economias dos municípios podem entrar em colapso sem o Polo Naval. É uma situação extremamente grave”, ressaltou.

Fabiany comentou ainda que este é um grito de socorro e que a perspectiva chegue ao governo federal. Ela lembra que há previsão de que oito plataformas sejam construídas nos próximos três anos e que é preciso fazer com que elas venham para a região. “Temos que fazer elas serem construídas aqui, para que a nossa economia se movimente. Não podemos nos permitir que elas sejam construídas fora do Brasil”, enfatiza. A reitora da Furg, Cleuza Dias, observa que a universidade abraça a causa e que espera que, com a realização da audiência, ocorra um resultado positivo que beneficie os trabalhadores do Município.

O representante do governo do Estado, Aires Apolinário, disse que não importa o partido político. “Somos todos um só, porque lá em Brasília é que se decide. Juntos, estaremos em Brasília”, afirma. Ele comenta ainda que o Estado estará junto à causa dos trabalhadores do Rio Grande e região. Para o presidente da Câmara de Vereadores, Charles Saraiva (PMDB), a queda na arrecadação do Município, mostra que a retomada dos trabalhos é extremamente necessária.

“A Câmara sempre esteve envolvida na questão do Polo Naval. A audiência abre um grande espaço e uma grande oportunidade para que as autoridades federais tomem conhecimento do que está acontecendo. A economia do Município teve uma queda de cerca de R$ 70 milhões. As pessoas só querem o direito de trabalhar. Não podemos nos calar diante dessa situação”, afirma.

“UM PINGO DE ESPERANÇA”

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Benito Gonçalves, agradeceu a todos os trabalhadores que se fizeram presentes na audiência e que estiveram mobilizados desde o último domingo (12), quando uma vigília que antecedeu o encontro foi realizada em frente ao estaleiro. “Fomos a várias reuniões. Agora brilhou um pingo de esperança. Eu não sou o tipo que fala bonito, sou o tipo que fala a verdade. Com a P-53, em 2013, tínhamos mais de 20 mil trabalhadores. Quantas vezes viajamos e nada foi resolvido. Não é briga que eu quero, eu quero é uma união de verdade. Falar para o público é muito lindo, mas não precisamos mais de reuniões”, ponderou.

Além disso, Gonçalves apontou que os deputados federais precisam agir em nome da indústria naval brasileira. “Não existe nada que possa tirar o nosso polo naval daqui, somente a guerra política pode fazer isso. Cada um de vocês é uma peça importante (disse referindo-se aos políticos e lideranças que estavam presentes), mas queremos que vocês façam. Quem roubou tem que ficar na cadeia, mas parece que quem ficou preso fomos nós. São dois pesos e duas medidas. Nós não aguentamos mais, de verdade”, finaliza. Entre os encaminhamentos da audiência pública, ficou definido que será solicitada uma audiência com o Governo Federal e a Petrobras para tratar sobre o futuro do Polo Naval do Rio Grande.
Por : ALINE RODRIGUES